Quando alguns amigos nos convidaram para fazer a trilha do Berg Lake em 2012, eu decidi não ir. Naquela época, eu não conseguia enxergar nenhuma razão pra passar a noite no meio do mato, e principalmente carregar todos os apetrechos necessários numa mochila (em torno de 25 Kg) até o acampamento, ao invés de dirigir até o local, como seria mais “normal”. Mas eles foram mesmo assim.
Apesar da distância e dificuldades da trilha, Janu voltou decidida a me levar lá um dia. Ela não perdia uma chance de me falar quão bonito era o caminho, e que apesar das subidas íngremes o visual valia o esforço. Todo ano eu prometia pra ela que iriamos no Berg Lake mas por causa da minha preguiça eu enrolava e como é uma trilha bem requisitada, eu nunca conseguia fazer reservas a tempo e todos os lugares esgotavam rapidamente no começo da temporada.
Bem, quatro anos se passaram e conforme fomos ficando mais hábeis em acampar e também com o desenvolvimento da minha fotografia, a vontade de ir ver com meus próprios olhos esse famoso lugar foi crescendo. Este ano, decidi parar de enrolar. Tiramos uns dias de folga do trabalho e conseguimos fazer reservas em Setembro, na última semana antes da trilha fechar para o inverno.
O Centro de Informações do Monte Robson (onde fica o começo da trilha) fica a 450 Km de Edmonton. Decidimos então passar a noite em Hinton, uma cidade que fica a aproximadamente 2/3 do caminho. Isto permitiria que dirigíssemos um pouco menos de 300 Km no primeiro dia, e assim poderíamos começar a trilha bem cedo no segundo dia de viagem, pois teríamos que andar aproximadamente 12 Km com as mochilas antes do anoitecer. Logo depois de pegar a estrada saindo de Hinton, este era o cenário que se revelava:
Depois de parar pra fotografar este visual maravilhoso, continuamos na estrada animados, pois nosso passeio estava apenas começando. Uma pequena surpresa, no entanto, foi uma maratona que estava marcada para acontecer neste dia na mesma trilha que iriamos seguir. Havia chovido bastante nos dois dias anteriores nós já sabíamos que o caminho estaria uma lama só. O fato de que teríamos que dividir a trilha com 500 corredores não iria ajudar muito, mas não podíamos fazer nada. Tentando ao máximo não atrapalhar a corrida do pessoal, aproveitamos o visual da montanha, incluindo a vegetação e acidentes geográficos que ficavam no caminho até o acampamento Whitehorn, onde passamos a primeira noite. Whitehorn fica no Vale das Mil Cachoeiras, um desses lugares cujo nome descreve perfeitamente e dispensa maiores explicações.
No dia seguinte, acordamos cedo e continuamos o nosso caminho até o acampamento Marmot, localizado na extremidade sudoeste do Lago Berg. A distância entre Whitehorn e Marmot era de apenas 7.2 Km mas há um trecho de 3 Km com uma subida de 420 m, o que representa quase 15% de inclinação (qualquer coisa acima de 10% já é considerado difícil). Foi uma subida puxada mas realmente o visual é espetacular.
No meio do dia chegamos a uma das maiores atrações desta trilha, a Cachoeira do Imperador. De uma altura enorme e com uma vazão considerável, esta cachoeira é uma das maiores que eu já vi, especialmente assim de pertinho. Um outro lugar cuja beleza justifica o nome.
Um pouco depois de passar pela Cachoeira do Imperador chegamos a Marmot. Do nosso acampamento podíamos avistar as geleiras Mist e Berg, e também o lago que empresta o nome à trilha.
No dia seguinte fomos dar uma caminhada pra ver uma outra geleira (Hargreaves) e umas cachoeiras. Este caminho nos levou a subir uma encosta com uma área de floresta, de onde podíamos avistar a geleira e o lago Berg. Vimos também umas pegadas recentes de urso preto.
Depois dessa primeira caminhada, decidimos ir até o final da trilha do lago Berg. A trilha vai até a fronteira entre a Columbia Britânica e Alberta, passando pela montanha Rearguard e pelo lago Adolphus (clique aqui para ver uma foto 360º deste lugar lindo).
No ultimo dia, andamos de volta os 17 Km que nos separavam da civilização. O retorno sempre é mais fácil, pois é uma descida e as mochilas estão mais leves, já que consumimos quase toda a comida. Por coincidência, encontramos uma brasileira que também estava descendo a montanha e passamos o dia trocando historias das nossas aventuras. Ela havia subido de helicóptero no dia e estava agora a caminho de mais aventuras pelo Canadá, iria passar mais três semanas passeando pelas montanhas.
Esta ultima foto encerra o registro de mais uma caminhada bem-sucedida.
Até a próxima aventura! 😀